Eu lavei suas roupas, junto com as minhas. E isso é mais uma tentativa de consolar a minha mente, mais uma imaturidade que se prende a mim, mais uma valorização material. Mais uma vez eu tento me agarrar a qualquer pedaço de você que esteja ao meu redor. Até mesmo as bolsas formadas embaixo dos meus olhos, e as tantas lágrimas que se derramaram essa noite, são um pouco de você. E enquanto eu não puder ter seus braços, ter sua boca, seu beijo manso nas minhas costas. Enquanto eu não tiver sua voz, seu sopro, sua atenção, eu me agarro a dor de ficar sem tudo isso, e vejo meus prédios internos desmoronando, com a certeza de que eu não quero reconstruir nenhum deles sem você.
Você é um ponto de interrogação, apesar de eu conhecer cada traço e angulação contidas. Eu te conheço o suficiente pra saber quais são suas possíveis decisões, te conheço o suficiente pra ter medo delas, mas também pra poder deixar a vela da esperança quase acesa.

O seu jogo é sempre o mesmo, porque você sabe que sempre ganha. Eu sou como uma aranha presa dentro do vidro, eu tenho veneno, mas o vidro me impede. E o vidro é você, que já prevê todos os movimentos, me alimenta quando quer me ver feliz, mas me nega moscas quando alguma coisa te desagrada. E eu fico aqui, estática, esperando que você retome as graças de me manter no vidro.

Se o vidro quebrar, é melhor você ter cuidado.